segunda-feira, 17 de maio de 2010

Falta um pouco de técnica!

Um capítulo a parte da nossa viagem foi visitar o amigo do meu pai.

O Ernesto foi colega de aula do meu pai na cidade de Bom Progresso, diga-se de passagem, menor que Três Passos. Ele estudou até a quinta série. Mas como era filho de agricultores recebeu uma bolsa para fazer o técnico agrícola por um ano na Suíça. Após terminar os estudos voltou para o Brasil, mas não encontrou emprego e decidiu voltar para a Suíça.

Hoje ele já é aposentado, mas tem um conhecimento que dá inveja a qualquer doutor e uma experiência de vida fantástica. Ele nos recebeu na sua casa com muita alegria e disse que queria mostrar a sua fazenda.

Andamos uns 800 metros até avistar um monte de casinhas. De longe você até poderia imaginar uma “favela européia”, mas na verdade são terrenos alugados pela prefeitura para os moradores que querem ter a sua própria horta. Cada morador organiza o espaço como bem entender. Alguns plantam flores, frutas e verduras, outros têm uma casinha de lazer ou um parquinho para as crianças. Cada terreno tem a bandeira do seu país, e você consegue perceber algumas diferenças olhando para o quintal e a maneira como cuidam dele.

Bem, a pequena fazenda do Ernesto tem 160m2, como ele tem uma casinha para guardar as ferramentas e alguns mantimentos, restam apenas 100m2 para o plantio. Mas de pequeno só tem o espaço. Em 100m2 ele cultiva alface, rabanete, três tipos de batata, feijão, tomate, pêra, maçã, uva, ameixa, temperos e algumas flores. Pelo menos foi isso que eu identifiquei. Mas com certeza existiam muito mais coisas que eu não consegui distinguir.

A alface tem um teto mecânico com sensor controlado pela temperatura. No canto da horta ele faz compostagem com o lixo orgânico da sua casa. Mas uma coisa impressionante é a sua arte de multiplicação. No mesmo pé de maçã, utilizando a técnica de enxerto, ele tem cinco qualidades de maçã. Em outra árvore seis qualidades de pêra e outra com três qualidades de ameixa. Até as roseiras são enxertadas.

Além disso, nos caules das árvores tem uma pedra para o caule não subir. Como ele mesmo diz: O que adianta duas peras no topo da árvore onde ninguém alcança. Mesmo as árvores com menos de 60cm já tem flores e dão frutos. Ele tem uma criação de abelhas, elas não dão mel, mas polinizam as plantas e assim ele tem um rendimento maior de frutas.

Dentro da sua casinha tem um mural com algumas fichas. Estas fichas são de doação de sangue que ele guarda desde 1970. Até hoje foram 252. Também tem algumas garrafas de vinho, um mapa do Brasil e até uma bandeira de Três Passos e outra do Rio Grande do Sul. A do Brasil estava hasteada. Também há um forno para fazer o churrasco. Este forno é giratório, se o vento muda de direção não atrapalha o churrasqueiro.

Para completar a manhã tivemos um delicioso almoço com batata e um queijo suíço derretido na hora acompanhado por um bom vinho rose. E depois morangos com chantili de sobremesa.

Para fechar o relato que já está bastante longo, duas frases que marcaram o domingo.

A primeira foi durante a visita a fazenda: Só passa fome quem quer e para alguns falta um pouco de técnica.

A segunda foi durante o almoço após o relato de algumas viagens e tantas outras histórias que ouvimos: O que aprendi foi com o mundo. Conhecimento ninguém tira da gente.

Imagina se no Brasil tivéssemos um pouquinho desta técnica e deste conhecimento.

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